O que vi no Rio: O braço saiu 3 vezes do lugar. E Sarah queria lutar
O que vi no Rio: O braço saiu 3 vezes do lugar. E Sarah queria lutar
08/08/2016 - 09:07
Nunca desista. Essa é apenas uma das lições que os esportes olímpicos tentam repassar ao mundo. Persistir no esporte e na vida, apesar das adversidades.
Ontem (6), em sua terceira participação em Olimpíadas, Sarah Menezes resistiu enquanto pode. Depois do seu braço sair do lugar por três vezes.
Friso: por três vezes, na luta contra a mongol Urantsetseg Munkhbat, o braço de Sarah Menezes saiu do lugar.
Na primeira, a luta estava empatada e em seus últimos segundos. Aos berros da torcida, que gritava "não bate", Sarah Menezes resistiu à chave de braço da líder do ranking mundial.
Sarah Menezes olhou para o cronômetro e pensou: pode ficar aí, tô nem aí... Seu treinador, Expedito Falcão, na arquibancada, evitou olhar. O cronômetro contou os últimos segundos e a luta acabou empatada.
E em um movimento, o braço voltou para o lugar. Parecia um bom sinal, mas ele não era mais o mesmo a partir dalí.
Com dores no cotovelo direito, Sarah Menezes voltou para a luta disposta a tudo:
- Eu não estava nem aí. Eu queria levantar, e derrubar ela com um braço só - disse horas mais tarde, com o braço direito imobilizado e inchado, enquanto comentava a luta com seu treinador, amigos judocas e este jornalista.
Atletas normais desistiriam. Sarah Menezes já não sentia mais o braço e continuou. Pegou outra chave de braço. A imagem na transmissão de TV é mais forte que o visto dos assentos da Arena Carioca 2. Munkhbat gira o braço da judoca brasileira, ela sente dor e persiste na luta.
A piauiense só se viu forçada a desistir quando a mongol pegou seu punho. Dor em dose dupla, difícil de suportar.
A dor da lesão vai demorar a passar. A de ficar sem medalha nos Jogos Olímpicos em casa, também. Mas as emoções de 6 de agosto de 2016 jamais serão esquecidas.
Pela manhã, Sarah Menezes sequer tinha sido anunciada. Apenas entrou na fila para aguardar sua primeira luta. Foi vista por torcedores e já começou a ser aplaudida. De repente, puxaram o grito: "Olê, olê olê olê... Sarah... Sarah".
Acompanho a carreira de Sarah Menezes há pelo menos 12 anos. Nunca me arrepiei tanto. Chorei como se já fosse a premiação. Foi uma demonstração de carinho totalmente diferente das já feitas em Teresina. Alí não era a piauiense Sarah Menezes. Era a brasileira amada por todos os seus compatriotas.
Fora do tatame, Expedito Falcão posava para fotos, conversava com torcedores, era cumprimentado e parabenizado dezenas de vezes. Alguém me pergunta: qual a razão de parabenizarem ele se a Sarah perdeu? Respondi: estão parabenizando por seu trabalho, por ele ter ajudado ela a ser quem ela é.
E foram cantos e aplausos que se seguiram ao longo de todo o dia, nas vitórias e nas derrotas, inclusive para Felipe Kitadai, eliminado na repescagem do torneio de judô, a exemplo de Sarah Menezes.
Os Jogos do Rio serão marcados, entre outras coisas, por sua torcida irreverente e apaixonada. Pelos brasileiros que não abandonaram Sarah Menezes e também souberam reconhecer os talentos de outros países, inclusive aplaudindo a festa da argentina Paula Pareto, que invadiu a arquibancada para comemorar sua merecida medalha de ouro.
Sim, Paula Pareto. A mesma que já enfrentou Sarah Menezes oito vezes e perdeu sete. Que não vence a brasileira desde 2010, mas se dá bem nos torneios nos quais a rival é eliminada.
O esporte é mágico por isso. Por Dayares Mestre, de Cuba, derrotada por três vezes por Sarah Menezes só neste ano, mas que venceu a rival pan-americana justo nos Jogos Olímpicos, com as regras debaixo do quimono.
São coisas do esporte e é preciso saber ganhar e perder. Mas o que resultado nenhum vai apagar é o exemplo de dedicação, luta e garra de Sarah Menezes. E não se apaga o título olímpico que ela já tem. Sarah nos mata de orgulho e vai nos orgulhar ainda mais.