PI registra 592 casos de garotas de 10 a 14 anos grávidas

PI registra 592 casos de garotas de 10 a 14 anos grávidas

30/09/2017 - 10:18

No Piauí, dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus) apontam que em 2015 foram registrados 10.747 casos de garotas de 10 a 19 anos grávidas, sendo 592 de 10 a 14 anos e 10.155 de 15 a 19 anos. Uma pesquisa publicada pela US National Library of Medicine mostra que metade das gestações não planejadas acaba em abortos e, muitas vezes, em óbitos. Outros problemas mais comuns associados à gravidez na adolescência e citados na pesquisa incluíram: anemia, infecções pelo HIV e outras DSTs, hemorragia pós-parto e transtornos mentais, como a depressão.

A gravidez não planejada de adolescentes é um problema de saúde pública mundial. Apesar do número alarmante, o comportamento da população com relação ao sexo e contracepção não vem se modificando diante desse cenário – é o que mostra a pesquisa global realizada em comemoração ao Dia Mundial da Contracepção, com mais de 3.000 adolescentes de ambos os sexos, com idade de 13 a 25 anos, em 15 países da Europa, África, Ásia, América Latina e América do Norte.

A grande questão é que um alto número dessas mortes e danos poderia ser prevenido, principalmente, por meio da educação sexual. Apesar do uso de contraceptivos ter expandido em números absolutos, esse aumento não acompanhou o crescimento populacional. Isso significa que as taxas de uso desses métodos são efetivamente inalteradas desde 2008, com base em dados da OMS. “Além disso, a indicação de que 75% dos jovens brasileiros sexualmente ativos já fizeram sexo desprotegido reforça a necessidade de ampliar o acesso dos jovens a informações essenciais sobre sexo e contracepção”, afirma a obstetra e ginecologista Dra. Albertina Duarte Takiuti, responsável pelo Ambulatório de Ginecologia da Adolescência do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Um dos motivos para a informação não chegar até esse público é o receio e/ou vergonha de iniciar uma conversa sobre sexo, tanto por parte dos adolescentes como dos pais e responsáveis. De acordo com a pesquisa global, por exemplo, mais de 90% dos participantes gostariam que o assunto “contracepção” não fosse considerado um tabu.

Para Albertina Duarte, coordenadora do Programa Estadual de Saúde do Adolescente em São Paulo, algumas medidas podem ser tomadas para mudar esse cenário no Piauí, que variam desde a união de forças entre as secretarias, sensibilização e atuação multiprofissional, de sindicatos, entidades de classe, promoção de rodas de conversa e políticas públicas, entre outras ações.

“Na Coordenadoria de Políticas Públicas para Mulheres do Piauí poderia ter um segmento como um empoderamento da mulher à questão da gravidez na adolescência, porque diminuir esse índice gera um caminho de não violência. Na Saúde, que já atua na saúde da mulher e da criança, também podiam estar trabalhando com o uso de métodos anticoncepcionais. É preciso que haja um diálogo entre esses órgãos”, destacou a médica.

Educação sexual ajuda a combater altos índices

Buscando compreender melhor como os homens se comportam em relação a esses temas, a Bayer, com o apoio do Departamento de Ginecologia da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP, ouviu 2.000 homens de 15 a 25 anos em 10 capitais brasileiras e constatou que, embora 72% deles acreditem que a responsabilidade de evitar uma gravidez não planejada seja do casal, a maioria não toma as medidas preventivas necessárias para impedir uma gravidez ou DSTs; ao mesmo tempo, o levantamento mostrou que 55% dos brasileiros tiveram sua primeira relação sexual entre 13 e 16 anos e que suas duas maiores preocupações durante o ato sexual foram a gravidez (31%) e as DSTs (34%).

Hoje, o mercado dispõe de métodos variados contraceptivos, como preservativo (camisinha), anticoncepcional oral, DIU (dispositivo intrauterino), injeção, adesivo, anel vaginal, implante, diafragma, entre outros. Porém, Dr. Afonso Nazário, ginecologista e professor universitário, destaca que “todos devem ser definidos junto ao ginecologista, pois cada pessoa tem suas particularidades e preferências. Além disso, cada alternativa tem suas indicações e devem ser adequadas ao contexto da pessoa”.

É importante lembrar que métodos confiáveis devem ser diferenciados daqueles que não trazem a segurança necessária, como é o caso do coito interrompido e do monitoramento da fertilidade por meio de calendário ou “tabelinha”. Apesar de alguns jovens considerarem esses métodos seguros, a boa notícia é que a maioria está ciente de que existem outros relativamente mais seguros, como o preservativo, ou “camisinha” (89,6%), e muito seguros, como a pílula anticoncepcional (82,1%).

Por outro lado, muitos ainda não conhecem as demais opções. Cerca de metade dos jovens brasileiros não tem informações sobre o anel vaginal (54,7%), o implante hormonal (52,7%), o diafragma (50,2%) ou o adesivo (48,3%). Mais de 40% não conhecem o DIU de cobre e o SIU (sistema intrauterino) hormonal e 23,4% desconhecem os métodos contraceptivos injetáveis.

Educação sexual deve ser compartilhada

“A gravidez na adolescência não é resultado de escolhas deliberadas, mas da falta de opções. É uma consequência, também, do pouco ou nenhum acesso às escolas, informações e serviços de saúde”, ressalta Dra. Albertina.

Outro dado reportado pela pesquisa é que, para mais da metade dos brasileiros (56,2%) a educação sexual nas escolas é insuficiente, mesmo que este seja considerado o local mais comum de aprendizado sobre esse tópico (de acordo com 52,2% dos entrevistados).

A pesquisa mostrou ainda que os meios mais comuns utilizados pelos brasileiros para se informar sobre sexo são os pais (39,8%), amigos (37,8%), livros ou revistas (35,3%), sites educacionais (31,8%), “materiais pornográficos” (29,9%) e, em último lugar, um aliado importantíssimo na conscientização sobre atitudes que devem ser tomadas e opções disponíveis para a prática de sexo seguro: os médicos (25,9%).

“Serviços de saúde sexual devem ser convidativos aos jovens. Aqueles que buscam tratamentos, contraceptivos e conselhos deveriam se sentir confortáveis quando fazem isso. Esses serviços também devem ser livres e facilmente disponíveis para homens e mulheres. Diferenciação entre gêneros é um dos maiores obstáculos na luta para aprimorar a saúde reprodutiva", acrescentou a ginecologista.

A sexóloga Laura Muller destacou também que é preciso entender que essa é uma fase complicada na vida dos adolescentes e que a educação sexual deve ser compartilhada, pois não é fácil essa tarefa, porque não basta a informação, mas existe todo um envolvimento sexual do jovem em lidar com questões como gravidez indesejada, DSTs, práticas sexuais que envolvem o prazer e desenvoltura e a diversidade sexual.

“Além das questões sexuais, nessa fase da vida os adolescentes precisam lidar ainda com os dilemas existenciais, de decisão de carreira e profissão e o tóxico com o envolvimento com bebidas, cigarros e outras drogas. A adolescência é uma fase complicada de transição da infância para a adulta e é preciso que tenhamos a informação correta para ajudá-los”, enfatizou. (W.B.)

O que importa na hora do sexo?

Partindo para o lado comportamental, os pesquisados indicaram alguns fatores que ajudam ou atrapalham no momento do sexo: os dados globais mostram que, no geral, os jovens priorizam o amor ao se relacionar com alguém. Cerca de 72,1% afirmaram que ter um(a) parceiro(a) que eles amam é o aspecto mais importante a ser considerado, e que a proteção está em segundo lugar (53,5%). Já para os brasileiros, estar com alguém que amam é tão importante quanto estar protegido.

Quanto aos outros fatores que importam para os brasileiros, estão a confiança no(a) parceiro(a), ter os próprios desejos e necessidades respeitados pelo outro, ter orgasmo e se divertir. Já os principais motivos da perda de desejo sexual são a falta de higiene ou forte odor corporal, egoísmo, olhar o celular, recusa a usar um método contraceptivo e ser chamado pelo nome errado.

“É de extrema importância estar no controle da sua vida. É a sua educação, seu parceiro, sua carreira. Você decide o seu futuro. A contracepção segura lhe dá poder para se envolver totalmente e viver sua vida ao máximo. Conhecer seu corpo e os métodos contraceptivos disponíveis lhe dará mais liberdade e confiança para tomar decisões na sua vida. Fale abertamente sobre sexo e contracepção com seu médico e se mantenha no controle do seu corpo e da sua vida sexual. A escolha é sua”, finaliza dr. Afonso. (W.B.)

Fonte: meionorte.com