Diagnósticos de HIV crescem 90% no Piauí

Diagnósticos de HIV crescem 90% no Piauí

28/10/2017 - 11:31

O diagnóstico do HIV, vírus que provoca a Aids, doença repleta de tabus até hoje, cresce de forma constante no Piauí. Os números que antes eram subnotificados por conta da desinformação e a dificuldade de acesso aos exames de sorologia vêm à tona para uma epidemia que nunca morreu. Desde o “boom” da doença na década de 80 até os dias de hoje o HIV permanece escondido na sociedade.

90%: esse o número do crescimento dos diagnósticos de infecção por HIV em quase 10 anos de combate ao vírus no Estado. Em 2007 foram 357 diagnosticados, enquanto que os dados mais recentes da Secretaria de Estado da Saúde do Piauí (Sesapi), de 2016, apontam para 678 novos diagnósticos.

A doença hoje é uma epidemia concentrada. As populações chaves são usuários de drogas, gays, travestis, população privada de liberdade e trabalhadores do sexo. Já as populações prioritárias são jovens, indígenas, negros e população em situação de rua. No entanto, de acordo com Karinna Amorim, coordenadora de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) da Sesapi, o vírus não escolhe as pessoas.

“Todos os seres humanos estão em situação de vulnerabilidade. Inclusive, não se perceber como vulnerável é um fator de risco, porque a pessoa acaba não usando o preservativo. A infecção pelo HIV atinge toda e qualquer camada social, de qualquer cor, classe ou faixa etária”, declara Karinna.

Cada vírus tem um comportamento em cada organismo, então os sintomas e a sobrevida são eternas variáveis. “Vai depender muito do subtipo de vírus adquirido e a forma como ele é clinicamente tratado. Quem descobre mais cedo é melhor, pois diminui a replicação viral, o que pode tornar a doença indetectável”, acrescenta a coordenadora.

Daí a importância de realizar o teste do HIV para ficar sabendo da possível infecção. “Quem não procura o serviço de saúde tem menos chance de realizar o diagnóstico precoce, consequentemente, a Aids pode se manifestar mais cedo. Porque o HIV é o vírus que causa a infecção. Já a Aids, a doença, é a síndrome, com baixa imunidade e doenças oportunistas. Neste caso é mais difícil o tratamento”, pontua.

Epidemia nunca acabou

Os números, infelizmente, aumentam a cada ano. No entanto, a busca pelo diagnóstico também aumentou. “O diagnóstico agora é mais fácil, as testagens estão mais fáceis, então o que era subnotificado está diminuindo. Os profissionais da saúde também estão solicitando mais a testagem, mas ainda é um desafio”, explica Karinna Amorim.

O tratamento clínico adequado para as pessoas que já foram contaminadas com o vírus é fundamental para barrar o vírus e evitar novos casos. “Quando alguém infectado faz o diagnóstico precoce, com o uso da medicação, o risco de transmissão para outras pessoas diminui”, frisa a coordenadora de DSTs da Sesapi.

Por isso a importância de falar sobre o vírus, a doença, os meios de transmissão e, principalmente, a importância do uso do preservativo. A popular camisinha não só previne o HIV como também diversas outras doenças, como a gonorreia, sífilis e até o câncer genital.

“A população não deve deixar de falar sobre o HIV. Muita gente pensa que a Aids não existe, ou que ela é menos grave e não causa problemas à saúde. Mas somos, sim, um Estado em que a epidemia está aumentando e que devem existir esforços em todas as instâncias para barrar isso. Saúde, educação e social devem estar juntos”, conclui Karinna. (L.A.)

Número de idosos com HIV cresce em 18%

A população de idosos com HIV cresce de forma constante no Piauí. De 2015 para 2016, o número de diagnósticos cresceu em 18%, de acordo com dados da Sesapi. A vida sexual ativa entre pessoas mais velhas é algo saudável, no entanto a proteção na hora do ato é tão necessária quanto em jovens.

Mas como é ser um idoso convivendo com o vírus? Antônio Falcão, de 62 anos, conta que foi abandonado pela família após o diagnóstico. Ele contraiu o HIV há pouco mais de dois anos, e a mulher e os filhos o deixaram no Lar da Esperança. “É muito difícil, mas a gente faz de tudo para viver. Aqui eu fiz amigos. Mas minha família me deixou aqui. Em dois anos meus filhos só vieram me ver duas vezes”, conta.

Mas para Ceres Assunção, também de 62 anos, felicidade é estado de espírito. Ela não nega que há momentos de tristeza em razão do preconceito. “A gente sai daqui [Lar da Esperança] e vai para a parada e sente o olhar das pessoas”, afirma.

Há mais de 10 anos convivendo com a doença, Ceres afirma que contraiu o HIV de um ex-companheiro. “Eu sempre usei preservativo. Mas eu tive um companheiro que não gostava. Para ele tinha que ser ‘carne com carne’. Ele tinha e não queria me dizer, ou não sabia. Então tive a notícia de que ele morreu por causa da doença. Ligaram para mim avisando e dizendo que eu devia fazer o teste, que acabou dando positivo”, acrescenta.

De início, Ceres afirma que sentia tontura e dor nas pernas, mas que não imaginava que poderia ser a doença. “Hoje em dia sou mais tranquila. Arrumei até um marido aqui no Lar, mas infelizmente ele já faleceu. O que me preocupa mais hoje em dia é a diabetes”, finaliza. (L.A.)

Piauí é pioneiro na luta contra portaria que discrimina homossexuais

A determinação do Ministério da Saúde de proibir que homossexuais possam doar sangue é um fator questionado há muito tempo por legisladores. Apontada como discriminatória por Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), a decisão contrária ao texto pode mudar os rumos da captação sanguínea no país. Em 2006, o Grupo Matizes protocolou no Ministério Público Federal do Piauí uma representação solicitando adoção de medidas necessárias, visando cessar o caráter discriminatório da Resolução 153/2004, de lavra da ANVISA, na parte que proíbe homens gays e bissexuais de doarem sangue.

Ato contínuo, o MPF, através do Procurador Tranvanvan Feitosa, ajuizou Ação Civil Pública (2006.40.00.001761-6 - 2ª Vara Federal m), solicitando que fossem cessados os efeitos discriminatórios da Resolução da ANVISA.  Mas em abril de 2007, o Juiz da 2ª Vara Federal proferiu decisão liminar, deferindo o pedido do Ministério Público. Posteriormente, a liminar foi cassada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região.

Na sentença de mérito, a juíza Maria da Penha Fontenele julgou improcedente a ação. Atualmente, o processo encontra-se no TRF 1º região.

Em 2010, o Ministério da Saúde divulgou nota em que declara não haver "qualquer restrição a homossexuais doarem sangue no país”. Na mesma nota, afirma que continua inapto para a doação “o homem que tenha tido relação sexual com outro homem” por um período de um ano.

Em março de 2011, o Matizes mais uma vez recorreu à OAB . No dia 09 de março de 2011 foi entregue ao presidente Ophir Cavalcante um ofício solicitando que a Ordem analisasse a Constitucionalidade da proibição imposta pela ANVISA. Em resposta à solicitação, o grupo que defende interesses do público LGBT recebeu um ofício informando que atualmente a matéria encontra-se na Comissão Nacional de Assuntos Constitucionais da OAB para análise e posicionamento.

Mas a luta continua. “Trata-se de uma portaria claramente velada de preconceito. Sabemos que o HIV não escolhe ninguém pela sexualidade”, defende Marinalva Santana, do Grupo Matizes. (L.A.)

 

Fonte: meionorte.com