Turnês de Ivete e Ludmilla canceladas: Saiba o que está por trás do cancelamento

Os preços dos ingressos variavam de R$ 100 a quase R$ 700

16/05/2024 - 11:48

Anunciado nesta quarta-feira (15), o cancelamento das turnês de Ivete Sangalo e Ludmilla surpreendeu os fãs das artistas e levantou dúvidas sobre o motivo por trás da suspensão dos shows.

Foto: Reprodução rede social

Ambas as turnês prometiam apresentações grandiosas, realizadas em estádios. Os eventos estavam sob responsabilidade da produtora 30e.

Os cancelamentos chegam um mês após Anitta dizer que o público brasileiro não paga por shows de grande porte. Seria essa a razão para a suspensão das turnês de Ivete e Ludmilla? O que mais pode estar relacionado ao caso? O que isso diz sobre a situação do mercado de show business no país?

O que aconteceu?

 

As turnês "A festa", de Ivete Sangalo, e "Ludmilla in the house", de Ludmilla, foram canceladas nesta quarta-feira (15).

A venda dos ingressos dos eventos estava há meses liberada — no caso de Ivete, desde fevereiro, e no de Ludmilla desde dezembro de 2023.

Com shows marcados em estádios brasileiros, as duas turnês prometiam shows grandiosos.

"A festa" celebraria os 30 anos de carreira de Ivete Sangalo e seria realizada em estádios de 30 cidades do país. A primeira apresentação aconteceria em 1º de junho, em Manaus, seguindo a agenda até abril de 2025, quando a cantora chegaria ao Rio de Janeiro. Os preços dos ingressos variavam de R$ 100 a quase R$ 700.

Já a série de shows de Ludmilla celebraria seus 10 anos de carreira. A turnê começaria no dia 25 de maio, no Rio de Janeiro. Ao todo, já estavam marcadas 19 datas, incluindo uma apresentação no Allianz Parque, em São Paulo. Ingressos eram vendidos de R$ 95 a quase R$ 500.

Em uma série de vídeos postados no Instagram (assista acima), Ivete Sangalo disse estar consternada com a situação.

"Hoje venho aqui contar pra você que esse é um momento muito sério, de muita responsabilidade, porque afinal de contas, eu tenho 30 anos de carreira, e nesses 30 anos de carreira, a transparência, a responsabilidade e, obviamente, o amor em tudo o que coloco, sempre foram prioridades pra mim. São pilares fortíssimos da minha história e da minha vida. E nesse momento, pra mim, é muito difícil, porque se trata de um sonho e de um momento muito especial, que são meus 30 anos de carreira. Eu pensei, criei um show, pensei muito em nossa história, como eu faria isso. E parti pra organização", afirmou a cantora.

"Honrando a transparência e a responsabilidade. Que marcam sua carreira, Ivete Sangalo e seu escritório optaram por cancelar a turnê "A Festa". A decisão, embora dolorosa, revelou-se necessária a partir da constatação de que a produtora responsável pela realização dos shows não conseguiria garantir as condições necessárias para que as apresentações da artista acontecessem da forma como foram concebidas com a excelência e segurança prometidas e acordadas."

"A principal motivação para a idealização da turnê "A Festa" foi o desejo da cantora de compartilhar a celebração dos seus 30 anos de carreira de maneira grandiosa com o público de todos os cantos do país reforçando a conexão e o compromisso que construiu ao longo de três décadas com seus fãs."

"Mas a realização de um projeto dessa magnitude exige a mobilização de uma estrutura complexa, que só se viabilizaria se houvesse um nível de planejamento e organização adequados, que garantissem, com a antecedência necessária, todas as condições prometidas, esperadas e pactuadas em contrato."

"Ivete Sangalo sente o carinho dos fãs e agradece muito por isso. E espera poder se apresentar nessas cidades que sempre a receberam com tanto carinho em breve."

O que disse a produtora?

As turnês de Ivete e Ludmilla estavam sob responsabilidade da produtora 30e, que divulgou um comunicado sobre o caso pouco depois do anúncio das artistas.

"A produtora lamenta, mas respeita a decisão unilateral das artistas e esclarece que, em nenhum momento, avaliou o cancelamento das duas turnês", diz a nota.

"Em relação à turnê 'Festa', por questões de demanda, a empresa propôs à artista e sua equipe uma readequação da estrutura e produção e foi surpreendida com o comunicado publicado. Em relação à turnê 'Ludmilla in the house tour', não houve nenhuma negociação anterior à decisão exclusiva da artista, e seu comunicado."

"Com mais de três milhões de pessoas impactadas anualmente pelos eventos que promove, realiza e produz, a 30e pode afirmar sua integral capacidade para cumprir seus compromissos com seus clientes, parceiros e patrocinadores, e informa que as demais turnês anunciadas estão confirmadas e ocorrerão", finaliza a nota.

Quais os possíveis motivos do cancelamento?

 

Embora nenhuma das partes envolvidas tenha especificado o que há por trás dos cancelamentos, é nítida a existência de um desencontro entre a produtora 30e e as ambiciosas turnês das artistas.

Tanto Ivete quanto Ludmilla prometiam apresentações no estilo de megaespetáculo. Ou seja, shows com direito a balé, banda, efeitos visuais, troca de figurino e cenografia arrojada. Tudo acompanhado por plateias enormes — compostas, aliás, por quem pagaria entre R$ 100 e quase R$ 700 (no caso de "A festa") e R$ 95 e quase R$ 500 (no caso de "Ludmilla in the house").

Turnês nesses moldes exigem uma numerosa equipe de profissionais, com fornecedores e prestadores de serviço de diversas áreas, assim como equipamentos e produtos de diferentes nichos. Não é pouco o dinheiro envolvido.

A 30e é bem sucinta ao comentar a turnê de Ludmilla, se limitando a dizer que "não houve nenhuma negociação anterior" à decisão da artista. Mas menciona ter tido problemas com "questões de demanda" no preparo da turnê "A Festa".

A produtora também fala em ter sugerido à Ivete uma "readequação da estrutura" dos shows, o que dá a entender que o plano inicial de sua turnê seria inviável — de novo, por fatores econômicos.

Embora a desavença entre 30e e Ludmilla seja menos decifrável nos comunicados, não é exagero supor que esteja relacionada com problemas da mesma linhagem dos de "A festa". Isso porque as duas turnês compartilham fortes semelhanças entre si: celebram todas as fases de suas respectivas artistas e propõem um megaespetáculo. Além disso, Ivete e Ludmilla são atualmente duas das cantoras mais populares do Brasil.

Nos últimos tempos, a 30e esteve à frente de turnês grandiosas, sendo "Titãs Encontro" a maior delas. Mesmo seguindo outro formato de show — com menos glamour do que o de Ivete e de Ludmilla —, as apresentações da banda foram vendidas com ingressos custando entre R$ 90 e quase R$2.000.

Ainda assim, vale dizer que o termo "questões de demanda" é amplo, podendo também se referir a problemas para além de venda de ingressos, como conflitos logísticos, imbróglios burocráticos e desavenças entre empresas.

Por que Anitta aponta problemas em realizar shows no Brasil?

Numa recém-conversa com jornalistas sobre a turnê e o novo disco, ao ser questionada sobre datas no país, a cantora Anitta disse que o público brasileiro não topa pagar por shows de grande porte.

"Quando é show internacional, todo mundo quer pagar zilhões. Mas estamos tentando fazer [grandes shows no Brasil], independentemente disso", acrescentou ela à declaração, que se tornou polêmica.

O público brasileiro está disposto a pagar por grandes turnês?

 

Os números dizem o contrário de Anitta. Por exemplo, um levantamento da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape) mostra que, entre janeiro e outubro de 2023, o setor de eventos e cultura teve crescimento acumulado de 46,6% no país.

O consumo no segmento movimentou R$ 96,7 bilhões, resultado 12,5% superior ao registrado no mesmo período de 2022, de R$ 86 bilhões.

Com a demanda represada da pandemia, o Brasil passou a viver, a partir de 2021, uma corrida por ingressos, que ainda não desacelerou. Shows e festivais esgotam em minutos.

Atrações brasileiras que no auge se apresentavam em locais de médio porte estão marcando reencontros ou despedidas em estádios. É o caso de NX Zero, Forfun e Natiruts.

O público brasileiro está disposto a pagar por festivais?

 

Só nos últimos dois anos, o Brasil ganhou ao menos três festivais de música com lineup internacional: Primavera Sound, C6 e The Town.

Isso mostra que há, sim, um significativo público interessado em ir a (e pagar por) megashows.

Ao mesmo tempo, a última edição do Lollapalooza, por exemplo, teve uma plateia nitidamente menor do que o de anos anteriores — apesar de a organização do festival ter se recusado a divulgar a quantidade de pessoas que compareceu ao evento deste ano.

 

 

Fonte: G1