650 mil famílias se declaram 'povos tradicionais' no Brasil
650 mil famílias se declaram 'povos tradicionais' no Brasil
29/10/2019 - 09:39
No quintal de sua casa de barro e telhado de palha, Neuza da Cunha, de 57 anos, mostra pés de tingui, mangaba, baru, pequi, cagaita, sambaíba e sucupira. “São nascidos por eles mesmos.” É assim que ela ensina que os produtos não precisam de plantio e são naturais dali, do Cerrado. Deles, Neuza extrai o óleo, tira a polpa e faz suco. Do mesmo jeito como fazia sua mãe e a mãe da sua mãe. Ela mora no Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, o maior território quilombola do Brasil, no nordeste de Goiás.
Nesta série de reportagens do Desafio Natureza, o G1 mostra como povos tradicionais ajudam a conservar o meio ambiente ao explorarem de maneira sustentável o seu entorno. Com os kalunga não é diferente. Após séculos de ocupação de um vale cercado por serras muito altas e com cachoeiras cristalinas, a paisagem local segue preservada.
"Os kalungas estão ali há 300 anos criando gado, produzindo arroz, feijão, milho, mandioca, farinha, além do uso dos produtos da biodiversidade", diz a ecóloga Isabel Figueiredo. "E, ao olhar as imagens de satélite, você vê o quanto aquela paisagem está íntegra".
Isabel é coordenadora do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), entidade voltada a fortalecer iniciativas que geram renda a partir da biodiversidade e que atua na região.
Assim como os kalunga, um levantamento inédito do Ministério Público Federal (MPF) ao qual o G1 teve acesso mostra que 650.234 famílias brasileiras se declaram como povo ou comunidade tradicional. São núcleos que têm nos territórios em que vivem e nos recursos naturais que utilizam a condição de sua existência e de sua identificação como um grupo culturalmente diferenciado. Neste mapeamento do MPF, estão localizados os indígenas, quilombolas, pescadores artesanais, extrativistas, ribeirinhos, ciganos e pertencentes a comunidades de terreiro.