'Eu achei que iria morrer', diz rapaz negro agredido dentro do próprio carro, no Maranhão
Eu achei que iria morrer
03/01/2022 - 08:22
Os roxos e cortes no rosto e no pescoço não foram as únicas marcas que ficaram em Gabriel da Silva Nascimento, de 23 anos, que foi agredido dentro do próprio carro, em frente de casa, em Açailândia, no Maranhão. Ele também acabou se mudando do imóvel, três dias depois do crime, porque ele pertence à família da mulher que o agrediu junto com um homem.
Os autores das agressões são o empresário Jhonnatan Silva Barbosa e a dentista Ana Paula Vidal, que também mora no prédio. Eles mandam o jovem sair do veículo e começam as agressões, que foram registradas em vídeo. Gabriel é derrubado, sofre chutes, pisões, tapas e Ana Paula põe os joelhos na sua barriga, enquanto Jhonnatan pisa em seu pescoço. A sessão de espancamento só para quando um vizinho avisa que a vítima é moradora do prédio e dono do carro de onde foi retirado.
No dia das agressões, Gabriel foi à delegacia para fazer um boletim de ocorrência, mas em três tentativas diferentes, ele foi informado de que o sistema estava fora do ar. Por isso, só conseguiu registrar a queixa no dia seguinte, o que impediu a prisão em flagrante dos agressores. Até agora, nenhum deles foi ouvido pela polícia.
Jhonnatan Silva Barbosa, o agressor, já foi condenado pela Justiça por ter atropelado e matado um senhor de 54 anos, em 2013. Ele foi condenado a 2 anos e 8 meses de prisão, que foram convertidos em serviços comunitários e multa de um terço de um salário mínimo. O Fantástico encontrou Jhonnatan, mas a pessoa que se identificou como tio dele informou que o sobrinho não daria entrevista. Em nota, Ana Paula Vidal, também agressora, pediu desculpas e disse que não teve uma atitude racista.
Para o advogado de Gabriel, o racismo é evidente: "Foi um caso de racismo. Muitas vezes se busca, para a caracterização de um episódio claro de racismo, a verbalização, a utilização de palavras que denotem o preconceito racial, mas isso não é o padrão brasileiro, baseado em racismo estrutural", defende o advogado Marlon Reis.
Este é o mesmo entendimento de José Carlos Silva de Almeida, da ONG Justiça nos Trilhos: "A partir do momento que eles olham o Gabriel, enxergam nele um bandido, um ladrão. Estão fazendo juízo de valor baseado na cor da pele, na vestimenta dele. Isso é racismo", diz.
Gabriel havia comprado o carro há 2 meses. Ele se mudou do prédio que morava porque ele pertence à família de Ana Paula. Com medo, ele teve acompanhamento da polícia para retirar seus pertences de lá.